domingo, 3 de julho de 2011

Com acervo pouco explorado, Costa Oeste da região vira lugar de garimpo para gravadoras independentes dos EUA e da Europa


O DJ alemão Frank Gossner: três anos na República da Guiné e festas embaladas a afrobeat em NYRIO - Alemão radicado em Nova York, Frank Gossner não tem mais espaço para vistos no seu passaporte. Depois de morar três anos na República da Guiné, circular por Nigéria, Mali, Benin e Gana, o DJ voltou para os EUA carregado de vinis raros para suas festas no Brooklyn. Com a ajuda de contatos locais, Gossner garimpa discos de afrobeat, funk e soul dos anos 1960 e 70 por toda a Costa Oeste africana, nova mina de sons psicodélicos para gravadoras independentes dos EUA e da Europa. E não dispensa nenhuma pista: vai a lojas, rádios, gravadoras, negocia com colecionadores e pode passar horas em galpões cercado por pilhas de discos em diversos estados de conservação.



- Existe um acervo enorme na África que durante décadas foi ignorado pelo mundo - diz o DJ ao GLOBO, por e-mail, contando como descobriu um disco quase inédito do nigeriano Orlando Julius por acaso na casa de um amigo, em Lagos, berço do afrobeat. - Ele me mostrou o vinil e eu não reconheci, nunca tinha visto antes. Entrei em contato com Julius e realmente quase não teve distribuição, ele até demorou a reconhecer. Dois meses depois, fechamos contrato, refiz a parte gráfica, e em seis meses o disco foi para as lojas. Nem sempre é tão rápido. Demorei três anos para relançar um vinil do Psychedelic Aliens.
Com o mesmo espírito intrépido de Gossner, Samy Redje faz um trabalho também "arqueológico" à frente da gravadora alemã Analog Africa. Chegou a passar três anos na ponte aérea Frankfurt-Acra (capital de Gana) para produzir a coletânea "African scream contest", disco com 14 músicas que vem acompanhado de um livro caprichadíssimo de 44 páginas cheio de fotos, trazendo de novo aos holofotes a incrível Orchestre Poly-Rythmo, do Benin.
Formado nos anos 1960, o combo ficou 20 anos sem produzir material inédito. Misturando afrobeat, rock e jazz em tintas psicodélicas, a Poly-Rythmo gravou "Cotonou" pela inglesa Strut Records em 2010, com participações da estrela africana Angelique Kidjo e de integrantes do Franz Ferdinand. Depois, caiu na estrada e veio ao Perc Pan de 2010, no Rio e em Salvador.
- As redes sociais e os blogs ajudaram a criar uma rede de contatos. Além disso, todas as novas gravadoras são dirigidas por gente que adora música, colecionadores em busca de discos diferentes - analisa o DJ Iñigo, fundador da espanhola VampiSoul, que após relançar discos de Fela Kuti e Tony Allen, aposta na coletânea "VampiSoul goes to Africa".
Série reviveu o etíope Mulatu
Essa nova onda de relançamentos acabou dando uma cara mais groove ao já desgastado mercado africano de world music. A Europa tem visto nos últimos anos uma enxurrada de discos e turnês de artistas com longa carreira em seus países, mas pouco divulgados fora da África. Surgiram assim os álbuns da Poly-Rythmo, o primeiro disco com lançamento internacional do guitarrista ganês Ebo Taylor, os raríssimos discos de Marijata e Pax Nicholas e os retornos de orquestras como a Rail Band (Mali), Bembeya (Guiné) e Baobab (Senegal), que voltou a tocar, em 2002, por influência da estrela da world music dos anos 1980, Youssou N'dour.
Produzida pelo selo francês Buda Musique desde 1998, a "Ethiopiques" é um marco no redescobrimento de discos raros africanos. A série já tem 25 CDs lançados e iniciou o revival do ethio jazz de Mulatu Astatke. O show do pianista, em março, em São Paulo, teve ingressos esgotados nos primeiros dias.
A lista de gravadoras com radares ligados nas relíquias africanas é enorme; além da Vampisoul, Analog Africa e Strut Records, o mercado tem ainda a Luaka Bop, do ex-Talking Head David Byrne, a francesa Oriki Musi e as inglesas SoundWay e World Circuit, entre as maiores. Gossner acredita que cidades como Acra, Cotonou e Lagos escondem muitas preciosidades.
- A Soundway está fazendo um trabalho histórico e cultural incrível, e sei que eles ainda têm muito material - diz Gossner, que tem o blog Voodoo Funk, essencial para colecionadores.
Em algum momento, a cena afro acabaria nos palcos. Em Nova York, os coletivos Antibalas e Nomo têm público fiel; em Los Angeles, a bola da vez é o Connie Price; em Boston, o Macrotones; em Londres, o New Master Sounds; em Berlim, os Poets of Rhythm; e em Sydney, The Liberators.
Isso sem contar os grupos de rock influenciados pela África, como o próprio Franz Ferdinand, o Vampire Weekend, os ingleses do Heliocentrics, parceiros de Mulatu Astke em uma série de shows em Londres, e Damon Albarn, do Gorillaz, que gravou um disco inteiro no Mali, em 2002. O Rio já tem festas como a Makula e bandas como a Abayomy Afrobeat Orquestra.
Fonte:

O Globo

CULTURA

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