Em poucos campos de futebol do mundo o técnico José Mourinho seria ‘persona non grata’ e a camisa 4 daria mais status que a 10 entre os jogadores. Um deles está localizado a 60 quilômetros de Barcelona e possui menos de sete mil habitantes: Santpedor, cidade da Catalunha onde nasceu Josep Guardiola, tem um time onde os craques vestem o antigo número do treinador do Barça e conta com uma população irritada com as polêmicas criadas pelo comandante do Real Madrid.
O GLOBOESPORTE.COM visitou o Campo Esportivo Municipal Josep Guardiola, sede do clube amador CF Santpedor, e constatou a idolatria dos moradores do pequeno município por seu filho ilustre:
- As crianças chegam aqui e só pedem para usar a 4... Está vendo aquela ali, a capitã? É minha filha. Olha o número dela – disse Jordi Castaño, um dos dirigentes do clube, apontando para o campo enquanto um jogo de futebol feminino era disputado.
A camisa da filha de Jordi era a 4, a mesma utilizada pelo ex-volante na maior parte de sua carreira. Fundado em 1915 – 16 anos depois do Barcelona -, o CF Santpedor também tem azul e grená como cores. Pura coincidência, dizem os diretores. Os jogos de uniformes usados pelas 20 categorias – incluindo cinco femininas – têm o dedo da família Guardiola: Pere, irmão de Pep, trabalhou na Nike e doou as camisas da marca, a mesma que patrocina o clube da capital catalã.
O estádio atual, com uma arquibancada para cerca de 150 pessoas, foi construído em 2007. O técnico do Barça esteve no local no dia inauguração e levou alguns companheiros do “Dream Team” campeão europeu em 1992, como Albert Ferrer e Miguel Ángel Nadal, para um jogo contra a equipe da cidade.
- Foi um massacre (risos). Perdi a conta de quantos gols levamos... Foi uns 8 a 0. Mas ele não marcou – lembrou o diretor Juan Carlos Mendez, amigo de infância de Pep.
- Se ele me ver, fala comigo, sabe o meu nome - garantiu.
A partida em abril de 2007 foi apenas a segunda que Pep jogou na sede do clube da cidade. Antes, em 1990, defendeu o Barcelona B contra o CF Santpedor ainda no campo antigo, no terreno ao lado do atual. O técnico do Barça nunca atuou pelo time local, pois ainda criança passou a defender o Gimnàstic de Manresa, município ao lado de Santpedor. Em 1984, aos 13 anos, Pep iniciou a carreira na base do Barcelona e passou a morar na capital catalã.

- Joguei muito com ele por essas ruas, batendo bola na parede dos vizinhos. Pep sempre foi o melhor, diferenciado. Sabíamos que ele iria longe. Até para comprar pão ele levava a bola no pé – contou Juan Carlos.
Os primeiros passos de Pep na pequena Santpedor
Atualmente, os pais de Pep - Valentí Guardiola e Dolors Sala – vivem em outra casa, bem maior e perto da estrada. Reservado, o técnico do Barcelona evita dar entrevistas coletivas e orientou os familiares a também não atenderem a imprensa. Quando passa por Santpedor, o ex-jogador fica o tempo todo na mansão e é pouco visto nas ruas. Após a visita na inauguração, pisou apenas duas vezes no "seu" estádio.
- É uma responsabilidade grande carregar o nome dele no nosso campo. Temos a obrigação de fazer bem as coisas, pelo menos tentar. Ele é muito trabalhador, concentrado no que faz e vive futebol – afirmou o presidente do CF Santpedor, Isidoro Mata.
- Um dia, ainda vai ser presidente do Barça. Tenho certeza - completou Jordi.
Por gostarem tanto de Pep, os antigos amigos têm um “inimigo” em comum: José Mourinho. Antes da primeira semifinal da Liga dos Campeões, o português atacou Guardiola dizendo que o catalão havia inaugurado uma nova classe de treinadores que reclama “quando o juiz acerta”. Após perder por 2 a 0, o técnico do Real acusou o Barça de ser protegido pela arbitragem e que o rival deveria ter vergonha do título da Champions conquistado em 2009.
- Falou muita besteira... Perto de Pep, Mourinho não é boa pessoa. Não sei se seria bem-vindo aqui – criticou Jordi.
O próximo duelo entre Barça e Real – ou entre Pep e Mou – está marcado para terça-feira, às 15h45m (de Brasília), no Camp Nou, com transmissão ao vivo da TV Globo e do GLOBOESPORTE.COM. Santpedor vai parar para ver a partida. O que não é difícil nas pacatas ruas da cidadezinha.




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