terça-feira, 17 de maio de 2011

Cavalieri e a reserva: ‘Se quisesse tranquilidade, ficava no Liverpool’


Com dezesseis partidas disputadas nos últimos três anos, Diego Cavalieri viu a certeza de uma carreira de sucesso se transformar em dúvida ao tomar aquela que parecia ser a decisão mais acertada de sua vida: trocar, aos 25 anos, o Palmeiras por um gigante europeu.
Revelação no Brasileirão de 2006, chegou a deixar o ídolo Marcos na reserva, conquistou os alviverdes, mas desde que chegou ao Liverpool, em 2008, se acostumou a acompanhar as partidas do banco de reservas. Passou ainda pelo Cesena, da Itália, e chegou ao Fluminense no início do ano como salvação para um problema crônico. Porém, cinco jogos depois, lá estava o banco de reservas assombrando mais uma vez o goleiro, que teve atuações irregulares e levou as primeiras vaias na carreira. Motivos de sobra para qualquer um questionar a si mesmo sobre as opções feitas no passado. Não para o goleiro tricolor.
Cavalieri busca seu espaço no Flu: 'Joguei pouco para me avaliarem' (André Durão/GLOBOESPORTE.COM)Seguro de seu potencial e confiando no trabalho, Diego Cavalieri chuta para longe qualquer tipo de revolta ou comodismo. Pelo contrário. Faz da dificuldade motivação para seguir trabalhando. Ciente das expectativas em torno de sua contratação, aguarda pacientemente por novas oportunidades e deixa claro: arrependimento é uma palavra que não existe em seu dicionário.
- Se eu quisesse tranquilidade, ficava no Liverpool. Todo jogador sonha jogar em um grande clube da Europa, e eu abri mão de mais dois anos de contrato na Inglaterra. O lado financeiro era muito bom, a qualidade de vida era perfeita, mas eu não jogava. Resolvi mudar e estou encarando outras situações.
Nos “Reds”, a idolatria pelo espanhol Pepe Reina permitiu apenas 10 exibições em duas temporadas. Situação que foi ainda pior na Itália, onde um problema de relacionamento imediato com o treinador o fez entrar em campo apenas uma vez em seis meses. A presença recorrente no banco de reservas assusta, mas não desanima Cavalieri, que está longe de ver como definitiva sua situação nas Laranjeiras.
- Claro que não quero ficar marcado assim (como reserva). Tenho meus objetivos e espero alcançá-los. Não quero isso para a minha carreira. Preciso de uma sequência de jogos. Joguei apenas cinco vezes pelo Fluminense. É muito pouco para me avaliarem.
De comportamento sereno, o goleiro mantém a calma como quem tem a certeza de que o mundo, principalmente no futebol, dá voltas. Voltar ao time é uma meta, assim como transformar as criticas de sua última partida, dia 9 de fevereiro, contra o Argentinos Juniors (foi questionado no empate por 2 a 2, principalmente no segundo gol), ainda pela primeira rodada da Libertadores, em elogios.
- Tenho a consciência de que me dedico 100% ao clube. Torcedor pressiona mesmo. Mas do mesmo jeito que um dia xinga, no outro aplaude.
Escolhido entre os três melhores goleiros no prêmio Craque do Brasileirão em 2006 e 2007, Cavalieri já mostrou em campo que potencial tem para isso. E em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM, a primeira desde sua barração, deixou claro que a tranquilidade também é uma arma para virar o jogo.
Você chegou com status de grande contratação, mas depois de apenas cinco jogos foi para o banco de reservas e não voltou mais depois de três meses. Como tem encarado esta situação?
Estou tranquilo. A última vez que falei foi depois do jogo contra o Argentinos Juniors, na estreia da Libertadores, o último em que fui titular. A situação naquele momento não era boa, mas dei minha versão dos fatos. Sigo tranquilo e trabalhando da mesma maneira. Procuro evoluir a cada dia, sempre esperando outra oportunidade de mostrar meu trabalho.
Diante disso tudo, por ter saído da Europa justamente para jogar, em algum momento você teve dúvida de ter tomado a decisão correta? Há algum tipo de arrependimento?
São situações diferentes. No Liverpool-ING,  eu disputava posição com o Reina, que é um grande goleiro e está há anos no clube. No Cesena-ITA, sim, passei por uma situação muito ruim. Foi combinado uma coisa e quando cheguei lá a situação era diferente. Acabei entrando em conflito com o treinador. Pensava em jogar e fiquei no banco. Mas não me arrependo de nada do que fiz. O segredo é sempre trabalhar mais para se aprimorar.
Por todo o tempo que estava inativo na Europa, você acha que tanto sua entrada quanto a saída do time foram precipitadas? Faltou paciência?
Eu estava pronto para jogar. Claro que pegar ritmo de jogo é complicado e fazia tempo que eu não jogava. Acaba envolvendo uma série de fatores como treinamento, posicionamento... Na Europa, a filosofia de trabalho, o jeito de atuar e o método de trabalho são diferentes. Mas não acho que minha entrada no time tenha sido precipitada. Nunca pensei que a readaptação seria fácil. Acabei jogando poucas partidas e saí do time. Foi uma opção do treinador e encarei com tranquilidade. 
Você disse que a reserva no Fluminense acontece em uma situação diferente do que houve no Cesena. Qual problema foi preponderante lá? Seu concorrente era favorecido?
Eles tinham um goleiro experiente, conhecido mundialmente, que é o Antonioli. O que pode ter pesado a favor dele foi o fator de morar na cidade, ser natural de Cesena... Mas houve uma proposta que colocaram para mim e não foi cumprida. O treinador falou que eu seria importante e iria jogar. Já no primeiro jogo comecei no banco e fui conversar. Ele disse que eu tinha de esperar e acabou criando um conflito. Mas não me lembro de nenhuma situação que o Antonioli tenha sido favorecido. Ele jogou por méritos.
E o panorama atual em que você se encontra no Fluminense? Pela vontade de jogar, analisa até mesmo a possibilidade de seguir para outro clube?
É complicado analisar assim. Não acho legal passar muito tempo pulando de clube em clube. É claro que todos querem jogar e trabalho para isso. Enfim, vim para um novo desafio e estou contente. Fui muito bem recebido pelos companheiros, pela torcida, e espero poder mostrar meu potencial. Estou com a cabeça tranquila. Ninguém fica feliz no banco, mas estou lutando para mudar isso.
Acha que essa volta ao time passa também pela confiança da torcida? Como que você encarou as vaias em tão pouco tempo como titular?
Torcedor age muito pela paixão. O jogo contra o Argentinos Juniors foi complicado. Nunca tinha passado por aquela situação. Ninguém gosta de voltar para casa assim, mas estava tranquilo e consciente do que tinha feito. Como disse na época, acho que não falhei. Estava no primeiro pau e o cara mandou a bola no segundo. Cheguei ao clube com uma responsabilidade muito grande e sei que o torcedor cobra mesmo. O importante é manter a cabeça no lugar e melhorar no dia a dia. Tenho a consciência de que me dedico 100% ao clube. Torcedor pressiona mesmo. Mas do mesmo jeito que um dia xinga, no outro aplaude.
As vaias, por sinal, são recorrentes quando o tema é goleiro no Fluminense. O próprio Berna passou por isso recentemente. A carência pela ausência de um ídolo na posição desde Paulo Victor, em 84, faz com que a pressão seja maior?
Esse é um fator que fica fora do campo. É muito relativo. Trabalhei 13 anos no Palmeiras, um clube que sempre teve muita tradição no gol. Isso também gera uma grande pressão para quem entra em campo. E eu ainda substituí o maior ídolo da torcida e um dos melhores goleiros do mundo que eu já vi atuando, que é o Marcos. Pressão sempre existe, seja para o lado bom ou para o ruim. O segredo é sempre trabalhar com a cabeça tranquila. Na posição de goleiro a margem de erro é zero. O segredo é se condicionar, saber superar os momentos críticos e seguir trabalhando.
O fato de você ter superado o Marcos e se manter como titular mesmo após ele retornar de lesão no Palmeiras é um estimulo para superar o momento atual?
Não é que eu tenha superado o Marcos. Apenas aproveitei a minha oportunidade. Era um peso muito grande substituí-lo. Sou suspeito para falar dele. Marcos sempre me ajudou muito. Ele tem um coração enorme. Poucos sabem que, quando ele se recuperou da contusão, a pressão para que voltasse era muito grande. Mas ele deixou o treinador à vontade para me manter na equipe. Marcos tem um grande caráter.
Você já admitiu que o Cesena te prometeu a titularidade e ela não aconteceu. Quando o Fluminense te procurou, houve algum tipo de promessa na negociação?
No Fluminense a conversa foi diferente. A contratação foi normal. Ninguém me prometeu nada. Sabia que enfrentaria dificuldades pelo clube ter sido campeão brasileiro e o Berna estar fazendo grandes partidas. Aceitei a proposta porque a oportunidade era boa. Eu tinha a chance de voltar para um excelente clube, com um grande projeto e um elenco maravilhoso e campeão. Por que não?
Em julho você completa três anos sem muitas oportunidades nos clubes por onde passou. Diante dessa questão recorrente, como buscar motivação para seguir trabalhando com a mesma seriedade?
Ela vem no dia a dia. Amo jogar futebol e treinar. Essa é a minha vida e a minha motivação. Saber que eu posso acordar e fazer o que eu amo sem lesão. Só me lembro de uma na carreira, um problema na mão. Vou sempre me dedicar 100% aos objetivos que tenho para minha carreira.
Sua situação no Fluminense nunca te fez pensar que de repente valia a pena esperar um pouco mais na Europa e brilhar por lá?
Toda mudança é complicada. Você muda e depois começar a avaliar se fez bem, se valeu a pena. A mudança já foi feita. Se eu quisesse tranquilidade, ficava no Liverpool-ING. Todo jogador sonha em jogar em um grande clube da Europa e eu abri mão de mais dois anos de contrato na Inglaterra. O lado financeiro era muito bom, a qualidade de vida era perfeita, mas eu não jogava. Resolvi mudar e estou encarando outras situações agora. Estou em um novo clube, em uma nova cidade... Me dou bem com todos os companheiros. Minha esposa está feliz também e gosta muito do Rio.
O grupo do Fluminense recentemente se envolveu em polêmicas sobre crises de relacionamento internas, o Emerson deu uma entrevista citando alguns fatos e alguns dos recém-contratados já se mostraram insatisfeitos. Qual sua visão disso tudo?
Estou bem, treinando e com a cabeça tranquila. Me dou bem com todos os jogadores. Não tenho problema algum e sigo contente. Trabalho todos os dias para voltar ao time. 
A mudança de estrutura do futebol europeu para um clube que recentemente foi criticado pelo próprio ex-treinador interferiu no seu desempenho?
O Fluminense tem uma estrutura legal, com campo, vestiário, academia... Sabemos que não é a melhor, mas dá condições do atleta realizar seu trabalho. Na Europa é bem diferente e estamos muito atrás mesmo. Não só em relação ao CT, mas também a estádio e infraestrutura. Isso, porém, não me atrapalhou em nada.
Com a chegada do Abel Braga, suas perspectivas se renovam?
Abel dispensa palavras. É um cara que foi vitorioso por onde passou. Campeão da Libertadores e do Mundial de Clubes. Um técnico exigente que cobra muito de todos. Cada treinador que chega começa tudo do zero e a disputa será dentro de campo no dia a dia. Esperança é claro que eu tenho. Goleiro nunca sabe quando será requisitado. Tenho de estar sempre preparado. A responsabilidade é grande.
Por todo o retrospecto na Europa, recentemente no Flu e até mesmo por um período no Palmeiras, evitar ficar marcado como eterno reserva, como o Roger nos tempos de São Paulo, por exemplo, é uma preocupação?
Claro que não quero ficar marcado assim. Tenho meus objetivos e espero alcançá-los. Mas nem sempre todos os momentos são positivos. Comecei de uma forma muito rápida e só com notícias boas. A partir da saída para Europa que as dificuldades surgiram. Procuro sempre trabalhar e me dedicar ao máximo. Não quero ficar marcado assim, não quero isso para a minha carreira. Preciso de uma sequência de jogos. Joguei apenas cinco vezes pelo Fluminense. É muito pouco para me avaliarem.
Aos 28 anos, quais suas ambições na carreira?
Meu primeiro objetivo é jogar, mostrar meu valor e poder fazer história no Fluminense e no futebol mundial. Quando ultrapassar essas primeiras barreiras, com uma boa sequência de jogos, sonho em defender a Seleção. Sei que é um processo mais longo, mas são esses os objetivos que tenho e mente e farei de tudo para conquistá-los.
Diego Cavalieri durante entrevista (Foto: André Durão / GLOBOESPORTE.COM)
Diego Cavalieri fez apenas cinco partidas pelo Flu: 'É muito pouco' (André Durão/GLOBOESPORTE.COM)
Diego Cavalieri durante entrevista (Foto: André Durão / GLOBOESPORTE.COM)
Diego Cavalieri durante entrevista exclusiva (Foto: André Durão / GLOBOESPORTE.COM)
Diego Cavalieri durante entrevista (Foto: André Durão / GLOBOESPORTE.COM)
Goleiro do Fluminense garante estar adaptado ao Rio de Janeiro (André Durão/GLOBOESPORTE.COM)


Diego Cavalieri liverpool liga europa (Foto: agência Getty Images)
Passagem pelos Reds durou dois anos e apenas dez partidas (Foto: agência Getty Images)

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